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O que é o LOTOTO na segurança do trabalho, afinal?
Guia completo sobre cada etapa do LOTOTO, com exemplos de falhas reais, exigências das NRs e a importância da cultura de segurança.
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Quando falamos de segurança em máquinas e equipamentos, uma sigla que precisa estar no vocabulário de todo profissional que atua em uma planta industrial é o tal do LOTOTO. E não, esse não é erro de digitação. Estamos falando de Lockout, Tagout e Tryout – Bloqueio, Etiquetagem e Teste –, três etapas fundamentais para garantir que nenhum trabalhador seja exposto a uma energia perigosa durante intervenção em máquinas ou equipamentos.
No papel, tudo parece simples. Mas na prática, dentro da fábrica, a realidade é outra. Já presenciamos casos em que o procedimento de LOTOTO estava formalizado e disponível, mas, no momento da execução, a pressa ou a falta de compreensão dos riscos comprometeram a segurança.
LOTOTO na segurança do trabalho não é apenas seguir um checklist: é cultura organizacional, rotina operacional e, principalmente, respeito pela vida de quem atua na linha de frente da manutenção, limpeza ou qualquer outro tipo de intervenção.
Para entender melhor como cada etapa funciona e porque elas são indispensáveis para a segurança do trabalho, vale detalhar o papel de cada componente do LOTOTO e como eles se complementam para evitar acidentes graves. Acompanhe:
Lockout (Bloqueio)
Lockout é o bloqueio físico de uma fonte de energia. Pode ser um disjuntor, uma válvula, um plugue elétrico. A função é impedir fisicamente que o equipamento seja reenergizado de forma acidental. Já vimos empresas improvisando com arame ou fita isolante achando que resolveria – enquanto essa atitude é uma falha crítica em segurança de máquinas. O dispositivo de bloqueio deve ser adequado, resistente e instalado por quem vai realizar o serviço.
Tagout (Etiquetagem)
Tagout é a parte da sinalização do procedimento de segurança. Consiste na fixação de uma etiqueta de bloqueio com informações como nome do responsável, motivo do bloqueio e data. Pode parecer burocrático, mas é essencial para a comunicação segura no ambiente de trabalho. Quantas vezes você já viu uma máquina parada e ficou na dúvida se poderia ligá-la ou não? A etiqueta evita esse tipo de erro. Ela comunica, e comunica com clareza, quando bem utilizada.
Tryout (Teste)
Tryout, que muitas vezes é negligenciado, é oteste de eficácia do bloqueio. É o momento de verificar se o bloqueio realmente foi feito corretamente. Após desligar a energia, realizar o bloqueio e sinalizar, o colaborador deve tentar religar o equipamento. Se ele funcionar, algo está errado. Pode haver energia residual ou uma alimentação alternativa.
Exemplo real de falha de Tryout
Em uma indústria química, um colaborador foi realizar a manutenção em uma linha que deveria estar isolada. Ele identificou uma válvula manual e acreditou que havia fechado a mesma. Por não haver qualquer sinalização no eixo indicando claramente a posição aberta ou fechada, presumiu que ela estava fechada corretamente. Realizou o bloqueio físico e aplicou a etiqueta, mas não executou o Tryout – ou seja, não testou de forma prática se o isolamento era efetivo.
Ao iniciar a abertura da linha para a manutenção, o vapor sob pressão que ainda passava pela tubulação atingiu o trabalhador, causando queimaduras superficiais. Esse caso específico não resultou em algo mais grave, mas o potencial de risco era altíssimo.
Se o Tryout tivesse sido realizado corretamente – como, por exemplo, a abertura controlada de um purgador ou ponto de alívio para verificar a ausência de pressão –, o erro na posição da válvula teria sido identificado antes da abertura da linha. Esse tipo de verificação é essencial, principalmente quando há ausência de indicadores visuais ou instrumentação confiável.
Quais Normas Regulamentadoras (NRs) falam sobre LOTOTO e bloqueio de energia?
No Brasil, o bloqueio e a sinalização de fontes de energia perigosas durante intervenções são exigências claras das normas regulamentadoras (NRs). As principais que tratam diretamente desse tema são a NR-10, a NR-12 e a NR-33, cada uma abordando contextos distintos, mas com um ponto em comum: garantir que nenhuma energia perigosa coloque vidas em risco durante atividades de manutenção, inspeção, limpeza ou trabalho em áreas confinadas.
A seguir, destacamos os principais trechos das NRs que reforçam a obrigatoriedade do bloqueio, da etiquetagem e da verificação da condição segura antes de qualquer intervenção – etapas que fazem parte do procedimento LOTOTO (Lockout, Tagout e Tryout).
NR-10 – Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade
O item 10.3 trata da "Segurança no Projeto":
• 10.3.1: É obrigatório o uso de dispositivos de corte de circuitos que possuam recursos para impedir a reenergização, com sinalização de advertência e indicação da condição operacional.
O item 10.12 aborda a segurança nas instalações elétricas desenergizadas:
• 10.12.1: Apenas serão consideradas desenergizadas as instalações elétricas liberadas para o trabalho, mediante os procedimentos apropriados, seguindo a seguinte sequência: delimitação e sinalização da área de trabalho; seccionamento ou corte; verificação de ausência de tensão; bloqueio contra reenergização; verificação de ausência de tensão para instalação da descarga à terra temporária; proteção dos elementos energizados que estejam nas imediações; instalação de sinais de bloqueio de reenergização.
NR-12 – Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos
Item 12.11.3: A manutenção, inspeção, reparo, limpeza, ajuste e outras intervenções devem ser executadas por profissionais formalmente autorizados pelo empregador, com as máquinas e equipamentos bloqueados, seguindo os seguintes procedimentos:
• isolamento e descarga de todas as fontes de energia, de forma visível e identificável;
• bloqueio mecânico e elétrico na posição "desligado" ou "fechado" de todos os dispositivos de corte de fontes de energia, com etiqueta de bloqueio contendo data, horário, motivo da manutenção e nome do responsável;
• medidas que garantam que, após o corte da energia, não haja risco de acidente;
• medidas adicionais de segurança quando a manutenção for feita em equipamentos sustentados por sistemas hidráulicos, pneumáticos ou mecânicos;
• sistemas de retenção com bloqueio mecânico para evitar movimentações acidentais.
NR-33 – Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaços Confinados
Item 33.3.2 – Medidas técnicas de prevenção:
• d) Prever a implantação de travas, bloqueios, alívios, selamento e etiquetagem.
Anexo III – Glossário:
• Bloqueio: Dispositivo que impede a liberação de energia perigosa, tais como pressão, vapor, fluidos, combustíveis, água e outros, que contenham riscos para o trabalho seguro em espaços confinados.
Cultura de segurança do trabalho: sem ela, o LOTOTO não funciona
Não basta existir um procedimento de bloqueio e etiquetagem (LOTOTO). Não basta ter os dispositivos de segurança. A cultura de segurança do trabalho é o que realmente sustenta a prática do Lockout, Tagout, Tryout.
Já participamos de implantações em que os operadores tinham receio de bloquear uma máquina por medo de represálias ou de atrasar a produção, um sinal claro de que a cultura de prevenção de acidentes precisa ser fortalecida.
E a mudança começa pela liderança em segurança. Quando o encarregado é o primeiro a aplicar corretamente o procedimento de LOTOTO, o time segue o exemplo. Quando a liderança é omissa, a segurança do trabalho se enfraquece. Um cadeado esquecido no bolso não protege ninguém. A proteção vem de hábitos consistentes e comprometimento diário com a vida e a integridade de todos.
Responsabilidades de cada um na segurança do trabalho e na aplicação do LOTOTO
A segurança do trabalho é, sim, responsabilidade de todos. Mas, na prática, cada função tem seu papel dentro do processo de implantação e execução do LOTOTO (Lockout, Tagout, Tryout) para bloqueio e etiquetagem de energias perigosas:
• Gestores: assegurar os recursos necessários, garantir tempo adequado para execução segura dos procedimentos e reforçar a importância da prevenção de acidentes.
• Engenharia e Manutenção: mapear corretamente todas as fontes de energia perigosas, garantir que os dispositivos de bloqueio corretos estejam disponíveis, padronizados e atualizados.
• Técnicos de Segurança do Trabalho: conduzir treinamentos sobre LOTOTO, acompanhar a prática em campo, identificar não conformidades de segurança e promover melhorias contínuas.
• Colaboradores: seguir rigorosamente o procedimento de bloqueio e etiquetagem, respeitar os bloqueios instalados e comunicar imediatamente qualquer situação de risco.
Além disso, a empresa deve manter um procedimento formal documentado sobre o LOTOTO, atualizado e acessível a todos os envolvidos, garantindo conformidade com as normas regulamentadoras e a redução de riscos.
LOTOTO é investimento em segurança do trabalho, não custo
Alguns gestores ainda enxergam o sistema de bloqueio e etiquetagem (LOTOTO) como uma despesa. Mas basta analisar os dados de acidentes de trabalho envolvendo energia perigosa para entender que o investimento em segurança do trabalho evita perdas humanas, operacionais e financeiras. Um acidente com energia pode ter consequências gravíssimas: choques elétricos, queimaduras, amputações e até mortes.
Além da prevenção de acidentes, há ganhos claros em produtividade industrial. Quando o procedimento de LOTOTO é bem definido e aplicado, há menos paradas inesperadas, menos retrabalho e maior confiança da equipe em realizar suas atividades com segurança.
LOTOTO é um processo com conceito simples, mas de execução complexa. Requer comprometimento, liderança ativa, cultura de segurança bem trabalhada, treinamento prático e acompanhamento constante. Quando implementado corretamente, protege o que há de mais importante: a integridade física do trabalhador que está dentro da máquina, confiando que o sistema está funcionando para garantir sua segurança.
Essa confiança só é construída com procedimento claro, equipamentos de bloqueio adequados e, acima de tudo, responsabilidade coletiva na segurança do trabalho.
Este conteúdo foi desenvolvido por Igor Fernando, Engenheiro Elétrico e especialista em LOTOTO na TAGOUT, que atua diretamente na implantação, treinamento e auditoria de procedimentos de bloqueio e etiquetagem em diversos setores industriais.